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Excesso de barulho é a nova realidade das grandes cidades


Quanto mais as tecnologias e a urbanização crescem, mais os diversos ruídos do nosso cotidiano apontam o mesmo caminho. Antes não existiam muitos meios de geração de ruídos e as cidades eram bem mais silenciosas. Mas a tecnologia trouxe inúmeras formas de se fazer barulho e a urbanização as reúne ao longo da cidade, principalmente na região da Pampulha. Outrora em espaçadas casas, agora muitas pessoas vivem em apartamentos, aumentando o nível de intolerância, mas também de necessidade de respeito ao próximo. São mais pessoas convivendo em um espaço mais estreito. Além disso, esse acúmulo de pessoas faz aumentar o trânsito e o comércio.

São muitos os inimigos do ouvido. Nesta reportagem citaremos algunsexemplos. Devemos lembrar que, por mais que estejamos acostumados a essa realidade, os problemas de saúde também estão relacionados a isso. “A poluiçãosonora se relaciona a uma série de complicações, que vão de zumbidos e comprometimento da audição à insônia, dores de cabeça, estresse e hipertensão. A intensidade de som considerada segura para nosso ouvido é de até 85 decibéis, valor facilmente alcançado em uma avenida movimentada. É preciso levar em conta também o tempo de exposição aos ruídos. Por mais inofensivos que pareçam, sons de 85 a 90 dB se tornam nocivos depois de oito horas de exposição”, relata em artigo científico o dirigente da Sociedade Brasileira de Otologia e responsável pela Campanha Nacional da Saúde Auditiva, Silvio Caldas.

De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas, o ruído tolerável em áreas residenciais é de 45 decibéis. No bairro Itapoã, por conta das obras viárias e do aumento do trânsito, o limite é facilmente ultrapassado, principalmente para quem mora próximo à Avenida Dom Pedro I. “A barulheira é intensa por causa das obras e do trânsito. O dia inteiro temos de conviver com o barulho de marretas, máquinas,containeres batendo, etc. Aumentamos a televisão na hora de assistir e fechamos a janela, pois o barulho é constante. Meus quartos dão para a avenida”, explica o aposentado de 78 anos, Paulo Alberto Dias Macedo.

O barulho do trânsito incomoda tanto os mais velhos quanto os mais novos. “Não temos a tranquilidade de antes no Itapoã. Moro perto da Lagoa do Nado em um lugar muito tranquilo, mas de dois anos para cá minha rua virou um dos principais fluxos do bairro. É uma imensa barulheira nos ouvidos por conta da intensidade dos ruídos de carros e ônibus. Para ouvir televisão tem de se aumentar o volume mais do que antes. Outra chateação são os ônibus que descem a toda velocidade a partir das 4 horas da manhã”, explica o publicitário Tobias Bahia, de 30 anos.

Mas existem as pessoas que já jogaram “a toalha” por conta do barulho e se acostumaram a esse problema. “A região era muito tranquila antes da construção do Viaduto dos Guararapes. Quando começou a obra era muita barulheira. Ficamos irritados, mas depois você se acostuma ao barulho da obra e do trânsito”, explica um morador próximo às obras da Avenida Dom Pedro I, que não quis se identificar. As pessoas se acostumam ao barulho, mas depois que saem dele percebem a diferença. O webdesigner Pascoal do Carmo morou por muitos anos ao lado de uma escola no Itapoã: “Foram mais de 20 anos colado à Escola Estadual Três Poderes. Às 6 horas da manhã começavam a arrastar as carteiras. Às 7h entravam os alunos pelo portão que ficava colado ao meu quarto. Era aquela gritaria: meninos jogando bola, palavrões aos berros, etc. Isso ia até às 23h. Chegavam os finais de semana e quando você acha que vai dormir melhor eis que começa um culto religioso pela manhã. Daí você acostuma a conviver com o barulho. Há quatro anos me mudei e hoje percebo melhor a diferença. O dia é mais tranquilo, o sono é melhor tanto para dormir quanto para acordar. Realmente o barulho reduz a qualidade de vida das pessoas”, compara.

Igrejas e bares

Outro motivo de reclamação são os cultos das igrejas. O aposentado Schubert Tomangnini mora no Jaraguá em frente a uma dessas instituições. Ele desaprova o barulho, mas diz que prefere não entrar em disputa. “O barulho no dia de culto é bem alto. Geralmente o som vai até nove e meia da noite. Já acostumamos, pois moro há anos aqui. Mas às vezes aparecem pastores que gritam bastante. Exageram. Aí é complicado e incomoda muito. É melhor aprender a lidar com isso, pois se formalizarmos uma reclamação tudo é muito burocrático. Outros vizinhos já reclamaram e não adiantou”, lamenta o aposentado.

A legislação referente indica que o morador que se sentir incomodado com o barulho na vizinhança pode registrar reclamação na Prefeitura ou na delegacia, por meio de um Boletim de Ocorrência. O delegado pode instaurar inquérito policial para apurar o excesso. No caso dos bares muitos desses excessos acontecem. “Em algumas avenidas da região a música ao vivo vai até meia noite e meia. Um dia desses dois bares ficaram com o som alto, um atrapalhando o outro e os dois atrapalhando o bairro inteiro. Um terceiro restaurante, ao lado, está perdendo clientes por causa do barulho. Se for colocar música para os clientes, que coloque dentro do bar e não na calçada. É um afronto ao direito do outro. Já denunciei pela Lei do Silêncio e não adiantou, pois eles foram averiguar num dia que não tinha música. Chamei na hora em que estava acontecendo, mas não apareceram. Reclamei nos dois bares e conversei com os donos. Agora nem atendem mais aos meus telefonemas. Não sou obrigado a escutar uma música que não quero. Não posso ler, nem assistir TV em casa tranquilamente”, reclama o professor universitário Eugênio Tadeu.

A corretora de imóveis, Fabrícia Rossi, também tem reclamações parecidas e os problemas não são poucos. “Em frente à casa da minha mãe, um vizinho fez um ‘bar’ na garagem dele e alugou aquelas máquinas de música. O som fica no último volume o dia todo. Ninguém consegue ouvir TV. Já fizeram várias denúncias para a Prefeitura, Disque Sossego, Polícia, etc. Os vizinhos tomaram atitudes, mas nem assim ele para. Onde moro, um motoqueiro faz a segurança da rua buzinando a noite e a madrugada inteira. Já me informei com a própria polícia que me esclareceu que, além dessa profissão não ser regulamentada, é proibido usar a buzina indiscriminadamente”, desabafa. Em dias de jogos de futebol de Cruzeiro e Atlético ela também tem problemas: “É preciso ter muita paciência para aguentar os fogos de artifício antes, durante e depois. Minha filha fica muito assustada e não consegue dormir. Várias pessoas me relataram problemas parecidos com idosos e animais de estimação. Hoje em dia, em geral, é comum termos vizinhos que gritam até mesmo durante a madrugada, batem portas, andam de tamanco fazendo muito barulho. Os meus mesmo são assim”, completa.

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